LOPES, Everton (Especialista em Bioética)
Na metade do século XX, em 1970, um bioquímico norte-americano
chamado de Van Rensselaer Potter se dedicando à investigação ontológica na
Universidade de Wisconsin, em seu artigo [BIOETHICS, THE SCIENCE OF SURVIVAL][2]
– definiu “Bioética, a ciência da Sobrevivência” e utilizou esse termo, pois o
autor reivindica sua paternidade e pede a criação de uma nova ciência - a
ciência da sobrevivência - baseada na aliança do saber biológico [bios] com os
valores humanos [ética]. A preocupação da geração atual com a sobrevivência –
explica o autor – é causado pela separação existente entre nossas duas
principais culturas científica e a cultura clássica [as humanidades].
Infelizmente, as duas têm se desenvolvido em separado, deixando de se
influenciar mutuamente. Torna-se imperioso e urgente estabelecer uma ponte ou
aliança entre elas [uma bio-ética], em que o saber ou sabedoria dessa aliança
representará uma ponte rumo ao futuro[3].
No ano seguinte, Potter escreve a obra [BIOETHICS: BRINDGE TO THE FUTURE]
Bioética: ponte para o futuro da humanidade. Para ele necessita ser
retrabalhada, neste limiar de um novo milênio, também como uma ponte de diálogo
multi e transcultural, entre os diferentes povos e culturas, no qual possam
recuperar a tradição humanística, o sentido e o respeito pela transcendência da
vida na sua magnitude máxima [cósmica-ecológica] e desfrutá-la como dom e
conquista de forma digna e solidária[4].
Nesse sentido a intenção de Potter era desenvolver uma
ética das relações vitais, dos seres humanos entre si e dos seres humanos com o
ecossistema. O compromisso com a preservação da vida no planeta tornou-se o
cerne de seu projeto, a qual possuía como característica principal o diálogo da
ciência com a humanidade. Para o autor, existem duas culturas que,
aparentemente, não são capazes de se comunicar: a da ciência e a das
humanidades. Esta deficiência transforma-se numa prisão e põe em risco o futuro
da humanidade, que não será construído só pela ciência ou, exclusivamente,
pelas humanidades. Somente através do diálogo entre ambas [...][5]
Com base nesse ponto
de vista, a bioética é uma das áreas do conhecimento e reflexão, humano
que mais vêm crescendo nos últimos 40 anos, em todos os quadrantes do planeta,
desde a intuição pioneira de Van Rensselaer Potter, em 1970 nos Estados Unidos[6]
até os dias atuais, visto que a intuição foi fundamental para o aprimoramento
dessa ciência. A bioética é um saber que
surge para ajudar na tomada de decisões concretas que implicam a vida em geral
e a saúde humana em particular [...] Para interpretar o significado e discutir,
com reflexões éticas, a crescente introdução de tecnologias em todos os âmbitos
da vida humana e do meio ambiente natural. Ela surge com a preocupação de
interagir os problemas ambientais aos problemas de saúde e, conseqüentemente em
intervir nas tecnológicas do ser humano, no ambiente natural e como tentativa
de resposta aos dilemas éticos provocados pelas novas descobertas biológicas e
pelos avanços da medicina sobre o ser humano. Diante disso a bioética aparece
no tempo muito oportuno para analisar as praticas éticas dos órgãos que
trabalham em prol da defesa do ser humano e meio ambiente, por outro lado, ela usa o diálogo para se
relacionar com outras disciplinas afim de alcançar um objetivo ético e moral
sobre a vida da criação[7].
[1] Cf. O aparecimento do termo
“Bioética”, segundo V. Coutinho, surge pela primeira vez, em sua versão alemã
Bio-Ethik, em um artigo de Fritz Jahr, no ano de 1927, usado para designar “a
aceitação de obrigações éticas não apenas para com o homem, mas para com todos
os seres vivos”, propondo a seguinte exigência ética: “Respeita cada ser vivo
fundamentalmente como um fim em sim mesmo e trata-o, sempre que possível, como tal”
(id, ibid). Marino Júnior, Raul. Bioética global: princípios para uma moral
mundial e universal e de uma medicina mais humana. São Paulo: Hagnos,2009. p.
97.
[2] Cf. Cf. MOSER, A., SOARES. A. M.
M. Bioética: do consenso ao bom senso. Petrópolis, RJ: Vozes, 2006. p.19.
[3] Cf. MARINO. J. R. Bioética
global: princípios para uma moral mundial e universal e de uma medicina mais
humana. São Paulo: Hagnos, 2009. p. 77.
[4]
Cf. BRUSTOLIN, L. A. (Org.). Bioética:
cuidar da vida e do meio ambiente. São Paulo: Paulus, 2010, p.30.
[5] Cf. MOSER, A., SOARES, A. M. M.,
op. cit., p.20.
[6] Cf.
GARRAFA, V.(Org.). Bioética:
poder e injustiça. São Paulo: Centro Universitário São Camilo, Sociedade
Brasileira de Bioética, Edições Loyola, 2003. p.11.
[7]
Cf. BRUSTOLIN, L. A. (Org.)., op.cit., p. 69.
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