quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

O QUE É BIOÉTICA?


                                               LOPES, Everton (Especialista em Bioética)

 O que é bioética[1]?
Na metade do século XX, em 1970, um bioquímico norte-americano chamado de Van Rensselaer Potter se dedicando à investigação ontológica na Universidade de Wisconsin, em seu artigo [BIOETHICS, THE SCIENCE OF SURVIVAL][2] – definiu “Bioética, a ciência da Sobrevivência” e utilizou esse termo, pois o autor reivindica sua paternidade e pede a criação de uma nova ciência - a ciência da sobrevivência - baseada na aliança do saber biológico [bios] com os valores humanos [ética]. A preocupação da geração atual com a sobrevivência – explica o autor – é causado pela separação existente entre nossas duas principais culturas científica e a cultura clássica [as humanidades]. Infelizmente, as duas têm se desenvolvido em separado, deixando de se influenciar mutuamente. Torna-se imperioso e urgente estabelecer uma ponte ou aliança entre elas [uma bio-ética], em que o saber ou sabedoria dessa aliança representará uma ponte rumo ao futuro[3]. No ano seguinte, Potter escreve a obra [BIOETHICS: BRINDGE TO THE FUTURE] Bioética: ponte para o futuro da humanidade. Para ele necessita ser retrabalhada, neste limiar de um novo milênio, também como uma ponte de diálogo multi e transcultural, entre os diferentes povos e culturas, no qual possam recuperar a tradição humanística, o sentido e o respeito pela transcendência da vida na sua magnitude máxima [cósmica-ecológica] e desfrutá-la como dom e conquista de forma digna e solidária[4].
Nesse sentido a intenção de Potter era  desenvolver uma ética das relações vitais, dos seres humanos entre si e dos seres humanos com o ecossistema. O compromisso com a preservação da vida no planeta tornou-se o cerne de seu projeto, a qual possuía como característica principal o diálogo da ciência com a humanidade. Para o autor, existem duas culturas que, aparentemente, não são capazes de se comunicar: a da ciência e a das humanidades. Esta deficiência transforma-se numa prisão e põe em risco o futuro da humanidade, que não será construído só pela ciência ou, exclusivamente, pelas humanidades. Somente através do diálogo entre ambas [...][5]
 Com base nesse ponto de vista, a bioética é uma das áreas do conhecimento e reflexão, humano que mais vêm crescendo nos últimos 40 anos, em todos os quadrantes do planeta, desde a intuição pioneira de Van Rensselaer Potter, em 1970 nos Estados Unidos[6] até os dias atuais, visto que a intuição foi fundamental para o aprimoramento dessa ciência.  A bioética é um saber que surge para ajudar na tomada de decisões concretas que implicam a vida em geral e a saúde humana em particular [...] Para interpretar o significado e discutir, com reflexões éticas, a crescente introdução de tecnologias em todos os âmbitos da vida humana e do meio ambiente natural. Ela surge com a preocupação de interagir os problemas ambientais aos problemas de saúde e, conseqüentemente em intervir nas tecnológicas do ser humano, no ambiente natural e como tentativa de resposta aos dilemas éticos provocados pelas novas descobertas biológicas e pelos avanços da medicina sobre o ser humano. Diante disso a bioética aparece no tempo muito oportuno para analisar as praticas éticas dos órgãos que trabalham em prol da defesa do ser humano e meio ambiente,  por outro lado, ela usa o diálogo para se relacionar com outras disciplinas afim de alcançar um objetivo ético e moral sobre a vida da criação[7].



[1] Cf. O aparecimento do termo “Bioética”, segundo V. Coutinho, surge pela primeira vez, em sua versão alemã Bio-Ethik, em um artigo de Fritz Jahr, no ano de 1927, usado para designar “a aceitação de obrigações éticas não apenas para com o homem, mas para com todos os seres vivos”, propondo a seguinte exigência ética: “Respeita cada ser vivo fundamentalmente como um fim em sim mesmo e trata-o, sempre que possível, como tal” (id, ibid). Marino Júnior, Raul. Bioética global: princípios para uma moral mundial e universal e de uma medicina mais humana. São Paulo: Hagnos,2009. p. 97.
[2] Cf. Cf. MOSER, A., SOARES. A. M. M. Bioética: do consenso ao bom senso. Petrópolis, RJ: Vozes, 2006. p.19.
[3] Cf. MARINO. J. R. Bioética global: princípios para uma moral mundial e universal e de uma medicina mais humana. São Paulo: Hagnos, 2009. p. 77.
[4] Cf. BRUSTOLIN, L. A. (Org.). Bioética: cuidar da vida e do meio ambiente. São Paulo: Paulus, 2010, p.30.
[5] Cf. MOSER, A., SOARES, A. M. M., op. cit., p.20.
[6] Cf. GARRAFA, V.(Org.). Bioética: poder e injustiça. São Paulo: Centro Universitário São Camilo, Sociedade Brasileira de Bioética, Edições Loyola, 2003. p.11.
[7] Cf. BRUSTOLIN, L. A. (Org.)., op.cit., p. 69.

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